sábado, 17 de março de 2012

O geógrafo Aziz Ab'Saber


São Paulo – O geógrafo Aziz Ab'Saber, pesquisador do Instituto de Estudos Avançados (IEA) da Universidade de São Paulo, professor emérito da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP e presidente emérito da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), morreu na manhã de hoje (16), aos 87 anos, vítima de ataque cardíaco em sua residência, em Cotia, na Grande São Paulo. A FFLCH decretou luto oficial e cancelou as aulas de hoje. O velório será realizado na Cidade Universitária.
Ainda na tarde de ontem, ele entregou à SBPC sua obra consolidada, de 1946 a 2010, em um DVD, para ser entregue a amigos, colegas da universidade e ao maior número de pessoas. Ab'Saber era conselheiro e presidiu a entidade de 1993 a 1995.
“Tenho o grande prazer de enviar para os amigos e colegas da Universidade o presente DVD que contém um conjunto de trabalhos geográficos e de planejamento elaborados entre 1946-2010. Tratando-se de estudos predominantemente geográficos, eu gostaria que tal DVD seja levado ao conhecimento dos especialistas em geografia física e humana da universidade”, diz Ab'Saber em sua dedicatória.
Nascido em São Luiz do Paraitinga (SP), em 24 de outubro de 1924, Ab'Saber foi um dos mais importantes estudiosos da geomorfologia brasileira. Atuou também como pesquisador das áreas de ecologia, biologia evolutiva, fitogeografia, geologia, arqueologia e geografia. Morreu antes de ver publicada sua última obra, que será o terceiro volume da coleção “Leituras Indispensáveis”, a ser publicado pela SBPC. 
Em 1997 e 2005, ganhou o Prêmio Jabuti na categoria Ciências Humanas e, em 2007, na de Ciências Exatas. Em 2001, recebeu o Prêmio para Ciência e Meio Ambiente da Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura (Unesco). 
Ab'Saber era crítico severo do Código Florestal, em discussão no Congresso, pelo fato de o texto não considerar o zoneamento físico e ecológico de todo o país, como a complexa região semi-árida dos sertões nordestinos, o cerrado brasileiro, os planaltos de araucárias, as pradarias mistas do Rio Grande do Sul, conhecidas como os pampas gaúchos, e o Pantanal mato-grossense. Ele chegou a defender a criação do Código da Biodiversidade para contemplar a preservação das espécies animais e vegetais.
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e sua esposa, Marisa Letícia, divulgaram nota em homenagem ao cientista. "Aziz Ab’Saber foi, sem dúvida, um dos maiores geógrafos que o Brasil já teve. Seu profundo conhecimento da geografia e seu compromisso inabalável com o povo brasileiro foram fonte de inspiração para todos nós", afirma o casal.

"Convivemos intensamente no Instituto Cidadania, no Governo Paralelo e, sobretudo, nas Caravanas da Cidadania. Juntos, percorremos todos os cantos do Brasil, conhecendo a diversidade do nosso país e do nosso povo. A presença do professor Aziz, com sua inteligência e sabedoria, transformou essa experiência em algo extraordinário", prossegue a nota. "Sua presença sempre ativa, crítica e opinativa foi fundamental e ajudou a construir muitas das políticas públicas brasileiras. E foi assim que ele se manteve até seus últimos momentos."
O Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra (MST) divulgou nota na qual afirma que perdeu "um grande amigo e colaborador". "O povo brasileiro perdeu um dos seus mais brilhantes estudiosos da área ambiental e da geografia de nosso território. Estudioso e crítico da realidade, o professor Aziz se notabilizou por suas contribuições para que pudéssemos conhecer melhor as enormes riquezas naturais de nosso país e seus biomas", diz o MST. "O professor Aziz condenava a exploração privatista predatória da natureza, voltada para o lucro fácil para grandes empresas, enquanto deixava o passivo do desequilíbrio para toda a sociedade."

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